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domingo, 16 de setembro de 2012

Formandos em Direito da Unicap


Oração do Paraninfo Prof. José Mário por

ocasião da formatura dos bacharéis 

“Turma Pe. Caetano Pereira” da UNICAP




Antes de mais nada, permitam-me tecer algumas palavras sobre o Professor Pós-Doutor Padre Francisco Caetano Pereira (carinhosamente chamado, “seu” Caetano).

Foi com grande emoção contida que, ao receber o convite de formatura pela primeira vez, percebi que seria paraninfo da turma batizada em seu nome.

Quão merecida homenagem ao meu querido amigo Caetano – a quem acostumei chamar todas as manhãs por “Reverendo” e a quem devo pedir diariamente sua benção, pois disse ele que a absolvição t e r i a como pressuposto o arrependimento total e espontâneo dos atos praticados (algo que, segundo o próprio, seu Paraninfo e João Franco ainda não alcançaram).

Não penso em Caetano como meu antigo Professor.  Hoje, é  um amigo, um conselheiro, um guia espiritual, um tio, um irmão mais velho, sobretudo, um homem de bem.

A escolha de Francisco Caetano como símbolo, a refletir quem são e quem desejam ser os alunos desta turma, demonstra um compromisso com o próximo, com a ética e com um futuro Brasil mais humano.

Que seu nome possa interceder junto ao Pai Eterno em favor destas palavras, ora ditas em Paraninfado, permitindo chegar ao coração de vocês e, quiçá, em algum momento, inspirar as decisões, as alianças e as escolhas profissionais de cada um. Assim seja.

Passemos, então, à mensagem de formatura propriamente dita, na qual não haverá doutrina, conceitos ou teorias – não se trata aqui de uma aula de direito processual civil.

Tampouco haverá argumentos de autoridade ou referências a grandes juristas. Trago, na verdade, algumas mensagens para nossa reflexão. A primeira foi inspirada num personagem marcante
que sequer chegou a terminar a faculdade.

Dizia ele a um grupo de jovens: “vocês devem encontrar algo que amem!”

Esta expressão pode parecer singela para alguns ou até hipócrita para outros, mas estamos falando aqui mesmo de amor.

Quais são as motivações que nos levam a agir? O que levamos em consideração ao escolher um trabalho ou uma atividade profissional? O que fazer de nossas vidas, uma vez que somos bacharéis em direito?

Façam algo que amem!!!

Por que se vocês amam seu trabalho, vocês tratarão com amor os destinatários de seus serviços e/ou de seus produtos, voltando para casa, a cada dia, com o sentimento de dever cumprido.

Se vocês amam seu trabalho, nem a rotina, nem os afazeres familiares, nem tampouco a tristeza, serão obstáculo à sua continuidade.

Se vocês amam o que fazem, não haverá queda tão dolorosa que não permita ao trabalhador se levantar. Não haverá fracasso tão humilhante que não permita o êxito no começar de novo.

Quem ama o que faz, acorda todos os dias agradecendo a oportunidade de fazer novamente, de realizar-se no seu trabalho, de utilizar seus talentos em favor de projetos de vida. Da mesma forma, quem ama está pronto a reinventar-se todos os dias, a conceber novos projetos, a pensar o impossível e viabilizar todo o possível. em outro momento, esta personagem disse aos
mesmos jovens:

Conservem-se famintos! Conservem-se bobos!

Famintos! Famintos de saber e de aprender. Pobres do homem e da mulher satisfeitos com o que são e com o que sabem, pois este será o ponto final de sua jornada. Tenham fome de aprender – não sobre direito apenas, não sobre questões de concursos – mas sobre tudo.

O diferencial do presente e do futuro não está no diploma ou nas cartas de recomendação, tampouco nas notas alcançadas durante a Faculdade. Este foi apenas o ponto de partida, o início da jornada. O diferencial está e estará no conjunto de conhecimentos agregados! Além das técnicas profissionais básicas, o que mais você sabe? Entende de tecnologia? De administração? De finanças? De política? De economia? De relações entre pessoas? Quantas línguas você fala? A jornada já começou e vocês fazem parte dela!

Conservem-se bobos. O profissional não precisa ser completamente sério ao ponto de sufocar sua criatividade, seu poder de inovação. É neste momento que vamos além, atrás daqueles pontos de risco controlado, ou não, quando nos aventuramos no desconhecido, indo onde ninguém jamais esteve.

A aventura não se significa a perda das responsabilidades com nossa saúde, com nossa família e com nossos compromissos financeiros, mas sim, a coragem de ir além, de não permitir a estagnação. Em muitos casos, é arriscar receber um “não!” – nem perder nem ganhar – mais um degrau até a primeira resposta afirmativa. Só sabemos nossos limites quando chegamos neles e lá será o próximo passo para novos desafios.

O personagem que disse estas duas frases foi Steve Jobs, cofundador da Apple Computers, em discurso a formandos da Stanford University, poucos meses depois de descobrir ser portador de um câncer terminal.

Outro personagem que admiro muito inspirou a mensagem final deste discurso. Este personagem, um advogado, tornou-se célebre e se imortalizou na defesa da paz e da solidariedade e disse certa vez: direitos que não provenham de deveres devidamente cumpridos não possuem nenhum valor!

Uma dimensão muitas vezes esquecida é a dos deveres. Nós, profissionais do direito, somos criados na retórica dos “direitos” – protegemos por profissão, direitos nossos e alheios. Muitas vezes, sobrevalorizamos o direito subjetivo e nos perdemos numa arrogância de liberdades sem deveres.

Esquecemos que as duas dimensões estão intimamente ligadas: onde há direitos sem direitos inexiste legitimidade. Sem legitimidade, não há segurança ou estabilidade.

 Excluídos podem romper a ordem, poderosos podem excluir direitos.

Antes de pleitear direitos, pensemos em nossos deveres. Exerçamos conscientemente nossas liberdades e, nesse contexto, muitos litígios podem ser evitados. Nestes contextos, a paz prevalece sobre os conflitos.

Este advogado foi Gandhi, pacifista e herói da independência da Índia.

Com estas mensagens desejo a todos muita paz, saúde e sucesso!

Tenho muita honra de tê-los como afilhados. As portas da Universidade Católica de Pernambuco estarão sempre abertas para vocês. Deus os abençoe!!!

Seu professor e ora colega, José Mário.



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