Oração do
Paraninfo Prof. José Mário por
ocasião da formatura dos bacharéis
“Turma Pe.
Caetano Pereira” da UNICAP
Antes de mais
nada, permitam-me tecer algumas palavras sobre o Professor Pós-Doutor Padre
Francisco Caetano Pereira (carinhosamente chamado, “seu” Caetano).
Foi com grande
emoção contida que, ao receber o convite de formatura pela primeira vez,
percebi que seria paraninfo da turma batizada em seu nome.
Quão merecida
homenagem ao meu querido amigo Caetano – a quem acostumei chamar todas as manhãs
por “Reverendo” e a quem devo pedir diariamente sua benção, pois disse ele que
a absolvição t e r i a como pressuposto o arrependimento total e espontâneo dos
atos praticados (algo que, segundo o próprio, seu Paraninfo e João Franco ainda
não alcançaram).
Não penso em
Caetano como meu antigo Professor. Hoje,
é um amigo, um conselheiro, um guia
espiritual, um tio, um irmão mais velho, sobretudo, um homem de
bem.
A escolha de
Francisco Caetano como símbolo, a refletir quem são e quem desejam ser os
alunos desta turma, demonstra um compromisso com o próximo, com a ética e com
um futuro Brasil mais humano.
Que seu nome
possa interceder junto ao Pai Eterno em favor destas
palavras, ora ditas em Paraninfado, permitindo chegar ao coração
de
vocês
e, quiçá, em algum momento, inspirar as decisões, as alianças e as escolhas
profissionais de cada um. Assim seja.
Passemos, então,
à mensagem de formatura propriamente dita, na qual não haverá doutrina,
conceitos ou teorias – não se trata aqui de uma aula de direito processual
civil.
Tampouco haverá
argumentos de autoridade ou referências a grandes juristas. Trago, na verdade,
algumas mensagens para nossa reflexão. A primeira foi inspirada num personagem
marcante
que sequer
chegou a terminar a faculdade.
Dizia ele a um
grupo de jovens: “vocês devem encontrar algo que amem!”
Esta expressão
pode parecer singela para alguns ou até hipócrita para outros, mas estamos
falando aqui mesmo de amor.
Quais são as
motivações que nos levam a agir? O que levamos em consideração ao escolher um
trabalho ou uma atividade profissional? O que fazer de nossas vidas, uma vez
que somos bacharéis em direito?
Façam algo que
amem!!!
Por que se vocês
amam seu trabalho, vocês tratarão com amor os destinatários de seus serviços
e/ou de seus produtos, voltando para casa, a cada dia, com o sentimento de
dever cumprido.
Se vocês amam
seu trabalho, nem a rotina, nem os afazeres familiares, nem tampouco a
tristeza, serão obstáculo à sua continuidade.
Se vocês amam o
que fazem, não haverá queda tão dolorosa que não permita ao trabalhador se
levantar. Não haverá fracasso tão humilhante que não permita o êxito no começar
de novo.
Quem ama o que
faz, acorda todos os dias agradecendo a oportunidade de fazer novamente, de
realizar-se no seu trabalho, de utilizar seus talentos em favor de projetos de
vida. Da mesma forma, quem ama está pronto a reinventar-se todos os dias, a
conceber novos projetos, a pensar o impossível e viabilizar todo o possível. em
outro momento, esta personagem disse aos
mesmos jovens:
Conservem-se
famintos! Conservem-se bobos!
Famintos!
Famintos de saber e de aprender. Pobres do homem e da mulher satisfeitos com o
que são e com o que sabem, pois este será o ponto final de sua jornada. Tenham
fome de aprender – não sobre direito apenas, não sobre questões de concursos –
mas sobre tudo.
O diferencial do
presente e do futuro não está no diploma ou nas cartas de recomendação,
tampouco nas notas alcançadas durante a Faculdade. Este foi apenas o ponto de
partida, o início da jornada. O diferencial está e estará no conjunto de
conhecimentos agregados! Além das técnicas profissionais básicas, o que mais
você sabe? Entende de tecnologia? De administração? De finanças? De política? De
economia? De relações entre pessoas? Quantas línguas você fala? A jornada já
começou e vocês fazem parte dela!
Conservem-se
bobos. O profissional não precisa ser completamente sério ao ponto de sufocar
sua criatividade, seu poder de inovação. É neste momento que vamos além, atrás
daqueles pontos de risco controlado, ou não, quando nos aventuramos no
desconhecido, indo onde ninguém jamais esteve.
A aventura não
se significa a perda das responsabilidades com nossa saúde, com nossa família e
com nossos compromissos financeiros, mas sim, a coragem de ir além, de não
permitir a estagnação. Em muitos casos, é arriscar receber um “não!” – nem
perder nem ganhar – mais um degrau até a primeira resposta afirmativa. Só
sabemos nossos limites quando chegamos neles e lá será o próximo passo para
novos desafios.
O personagem que
disse estas duas frases foi Steve Jobs, cofundador da Apple
Computers, em discurso a formandos da Stanford University, poucos meses
depois de descobrir ser portador de um câncer terminal.
Outro personagem
que admiro muito inspirou a mensagem final deste discurso. Este personagem, um
advogado, tornou-se célebre e se imortalizou na defesa da paz e da
solidariedade e disse certa vez: direitos que não provenham de
deveres devidamente cumpridos não possuem nenhum valor!
Uma dimensão
muitas vezes esquecida é a dos deveres. Nós, profissionais do direito, somos
criados na retórica dos “direitos” – protegemos por profissão, direitos nossos
e alheios. Muitas vezes, sobrevalorizamos o direito subjetivo e nos perdemos
numa arrogância de liberdades sem deveres.
Esquecemos que
as duas dimensões estão intimamente ligadas: onde há direitos sem direitos
inexiste legitimidade. Sem legitimidade, não há segurança ou estabilidade.
Excluídos podem romper a ordem, poderosos
podem excluir direitos.
Antes de
pleitear direitos, pensemos em nossos deveres. Exerçamos conscientemente nossas
liberdades e, nesse contexto, muitos litígios podem ser evitados. Nestes
contextos, a paz prevalece sobre os conflitos.
Este advogado
foi Gandhi, pacifista e herói da independência da Índia.
Com estas
mensagens desejo a todos muita paz, saúde e sucesso!
Tenho muita
honra de tê-los como afilhados. As portas da Universidade Católica de
Pernambuco estarão sempre abertas para vocês. Deus os abençoe!!!
Seu professor e ora
colega, José Mário.