Os Imperdoáveis: O caos no
faroeste
A trama dirigida por Eastwood é indubitavelmente
mais profunda do que a maioria dos filmes de faroeste. William Muny é o
epicentro da história, antigo assassino que conhecido por promover barbáries
regadas a muito whisky, vive em crise de consciência consigo mesmo, e que por
esse fato, adota uma vida afastada de bebidas, mulheres e principalmente armas.
Em tempo que mora sozinho com seus filhos, surge Kid, jovem fascinado por
antigas histórias de assassinos, trazendo-lhe a proposta de matar dois
vaqueiros valendo-se da recompensa de 1000 dólares. Ante sua difícil situação
financeira, Muny aceita a proposta e convida Ned, seu antigo parceiro no
universo dos revólveres e espingardas para integrar sua campanha.
Na cidade em que vivem os vaqueiros, o xerife é Little
Bill, compenetrado, talvez aficionado na missão de manter a ordem
social, uma espécie de Estado Fascista doutros modos, concentrador das leis e
julgamentos. Tal sujeito -utilizando o bordão do herói Capitão Nascimento-
cumpre todas missões à ele confiadas, espanta caçadores de recompensa à
pancadas e tiros.
O cerne do filme do filme cinge-se à dicotomia
entre o Muny arrependido do seu passado, e o assassino focado na tarefa a ele
confiada. Não há como estereotipar os personagens que compõe essa trama, até
porque, o filme evidencia que códigos de ética nada tem a ver com a vida
naqueles outros tempos, quiça na vida pós-moderna. É, de fato, cumprem sua
missão, matam os vaqueiros, tendo como preço a vida de Ned, mas veja só, que ironia,
o portador de moral mais aguçada pagou com a vida, enquanto Kid, o aspirante à
assassino ao matar seu primeiro homem, concluiu que tal vida não era para ele.
A cena final é caótica, desvinculada dos padrões
Holliwoodanos, onde sempre, existe a tentativa de harmonizar a vida social
geralmente com a morte do protagonista malfeitor. Não, os rótulos da boa moral
nada tem a ver com Eastwood, e nessa trama não foi diferente. Muny mata cinco
homens e sai ileso, certamente com tantas dúvidas em sua cabeça, quanto como
iniciou a história.
Tal produção cinematográfica pode ser facilmente
comparada ao dia-a-dia da cena social-criminal. Em tantos momentos são
proferidos juízos axiológicos acerca de comportamentos de delinquentes,
conceituando-os como monstruosos, entretanto em poucos casos avalia-se a
estrutura psico-social do agente.
Evidentemente, torna-se difícil para o direito atenuar punições sob o argumento
da conduta legitimar-se pela difícil realidade enfrentada pelo criminoso.
Contudo, analisar criticamente esse aspecto é sem sombra de dúvidas, tarefa
elementar, quando a tentativa for de fato, não simplesmente de direito,
alcançar a justiça. Trocando em miúdos, quantos seres parecidos com William
Muny existem? Inúmeros, assassinos sim, mas que muitas vezes são determinados
pelo ambiente, bem como transgridem as normas, vislumbrando o bem-estar que o
Leviatã moderno esquiva-se de possibilitar.
Justifica-se ? Não. Muito menos no caso do
filme. Difícil questão.
Trailer do filme Os Imperdoáveis.
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