Perspectivismo
nietzschiano e suas implicações no âmbito educacional
A teoria do conhecimento de Nietzsche mais
conhecida como perspectivismo nietzschiano (correntemente assim chamado, mas
que nas suas obras não está com essa nomenclatura, a palavra perspectivismo
aparece somente algumas vezes) contrapõe-se
ao ideal de conhecimento surgida a partir da tradição
socrático-platônico-aristotélica (Sócrates-razão, Platão-mundo ideal,
Aristóteles-lógica), pois o perspectivismo se insurge no que Nietzsche chama de
Vontade de potência. Esse pensamento contraposto a tradição vem aliado a
percepção do que vem a ser verdade, no
texto Sobre verdade e mentira no sentido extramoral ele diz: “ O que é a
verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias,
antropormofismos, enfim uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas
política e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso,
parecem a um povo sólidos, canônicas e obrigatórias...”
A verdade portanto surge de uma
necessidade do ser humano, de querer o estável, o imutável, o fixo, juntamente
ao medo do que lhe é estranho, o que se efetivará na linguagem, que foi a
primeira forma de leis que gerava o acordo mútuo e uma comunicação rápida e
efetiva. Partindo desse pressuposto, subentende-se que é a partir da linguagem
que cremos na existência de uma verdade, de há “coisa-em- si”. A visão proposta
por Nietzsche é a de que, a vontade de potência que carrega vários significados
tais como: desejo de dominação, desejo de prevalecer, vontade de sobreviver,
vontade de se afirmar, vontade de se extinguir, surgem através dos nossos
impulsos, é das forças que surgem as interpretações, não tendo um resultado
último a ser encontrado, visto que a intrepretabilidade do mundo é infinita.
Cada força traz consigo uma perspectiva que enseja uma dominação. Sendo assim,
a vida tem que ser interpretada no seu caráter agonístico. Pois ela é luta,
luta de forças e de impulsos que gerará o acontecimento.
O pensamento de Nietzsche, portanto está
relacionado ao caráter artístico da interpretação, retomando dessa forma as
tragédias gregas, os mitos, os filósofos pré-socráticos, afim de remontar algo
que foi se perdendo ao longo do tempo, a saber, a importância da arte na vida.
Na sua genealogia, ele mostra que os
valores são mutáveis, são circunstanciais e não verdades absolutas, não havendo
nada bom em si, nem mau em si. “Não existem fatos, apenas interpretações”, esta
frase muito importante para este debate, a muito não foi entendida, por a terem
lido de maneira apressada desprovida de reflexão, o que Nietzsche provavelmente
quis dizer é que a sintomatologia, o perspectivismo rompe com o pensamento
maniqueísta (de bem e mal), para múltiplas interpretações.
A genealogia, projeto importante para a
quebra dos “ídolos de barro” tinha como escopo, a transvaloração de todos os
valores, ou seja a resignificação destes, afim de uma maior valorização da
vida, a transvaloração, não sendo um conceito fechado também abarca o âmbito
educacional.
Nietzsche observa que o pensamento
científico, que coloca as suas respostas como indubitáveis, igualando o
não-igual, gera um pensar calcado na correção do erro e na crença de que o
conhecimento tem um objetivo a ser alcançado. Ou seja, nas instituições de ensino,
o aluno é adestrado e não instigado a pensar, o conhecimento para ele tem um
fim a ser querido, é como se o aluno fosse uma máquina que mais tarde serviria
com eficiência a pessoas com interesses maiores.
O que vai existir portanto é uma massificação
que exclui o que é diferente, onde os grandes pensamentos e visões são
descartados quando não são interessantes para uma produção que gere lucro, ou
seja a idéia de produção aliada a idéia de progresso, que já está presente na
sua obra O nascimento da tragédia, na crítica ao homem moderno, que com seu
otimismo teórico tenta corrigir a existência, como se houvessem formulas a se
chegar a uma verdade, desprezando assim o caráter agonístico da vida. “Nietzsche
argumenta que pensamento não é um processo abstrato, “lógico” que ocorre em uma
consciência abstrata, e que o pensamento não é uma contemplação teórica e
indiferente do mundo.”
O que acontece é que no
ambiente educacional há uma castração da criatividade que é inerente a nossa
composição, a objetividade é imposta e cada vez mais o aluno se torna prático e
menos reflexivo, a importância do pensamento nietzschiano está em ver que os
fatos não podem ser vistos de maneira redutória e mesquinha e sim numa forma
que abarque as possibilidades de existência.
A visão de Nietzsche é
que, quando há interpretação ela dependeu de um referencial avaliativo, ou
seja, a interpretação de cada pessoa está relacionada a criação de
possibilidades de existência, que não são fechadas em uma verdade mas que
também não caem em um relativismo absoluto, num sentido contingente, por se
tratar de vida, e vida nunca poderá ser relativizada.
Bibliografia:
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A origem da tragédia. Nietzsche, Friedrich Wilhelm.
Tradução Joaquim José de Faria. São Paulo: Centauro, 2004.
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