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domingo, 31 de março de 2013

Espaço do acadêmico - Natália Buenos Aires


Perspectivismo nietzschiano e suas implicações no âmbito educacional




    A teoria do conhecimento de Nietzsche mais conhecida como perspectivismo nietzschiano (correntemente assim chamado, mas que nas suas obras não está com essa nomenclatura, a palavra perspectivismo aparece somente algumas vezes) contrapõe-se  ao ideal de conhecimento surgida a partir da tradição socrático-platônico-aristotélica (Sócrates-razão, Platão-mundo ideal, Aristóteles-lógica), pois o perspectivismo se insurge no que Nietzsche chama de Vontade de potência. Esse pensamento contraposto a tradição vem aliado a percepção do que vem a ser  verdade, no texto Sobre verdade e mentira no sentido extramoral ele diz: “ O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropormofismos, enfim uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas política e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidos, canônicas e obrigatórias...”

     A verdade portanto surge de uma necessidade do ser humano, de querer o estável, o imutável, o fixo, juntamente ao medo do que lhe é estranho, o que se efetivará na linguagem, que foi a primeira forma de leis que gerava o acordo mútuo e uma comunicação rápida e efetiva. Partindo desse pressuposto, subentende-se que é a partir da linguagem que cremos na existência de uma verdade, de há “coisa-em- si”. A visão proposta por Nietzsche é a de que, a vontade de potência que carrega vários significados tais como: desejo de dominação, desejo de prevalecer, vontade de sobreviver, vontade de se afirmar, vontade de se extinguir, surgem através dos nossos impulsos, é das forças que surgem as interpretações, não tendo um resultado último a ser encontrado, visto que a intrepretabilidade do mundo é infinita. Cada força traz consigo uma perspectiva que enseja uma dominação. Sendo assim, a vida tem que ser interpretada no seu caráter agonístico. Pois ela é luta, luta de forças e de impulsos que gerará o acontecimento.

     O pensamento de Nietzsche, portanto está relacionado ao caráter artístico da interpretação, retomando dessa forma as tragédias gregas, os mitos, os filósofos pré-socráticos, afim de remontar algo que foi se perdendo ao longo do tempo, a saber, a importância da arte na vida.

      Na sua genealogia, ele mostra que os valores são mutáveis, são circunstanciais e não verdades absolutas, não havendo nada bom em si, nem mau em si. “Não existem fatos, apenas interpretações”, esta frase muito importante para este debate, a muito não foi entendida, por a terem lido de maneira apressada desprovida de reflexão, o que Nietzsche provavelmente quis dizer é que a sintomatologia, o perspectivismo rompe com o pensamento maniqueísta (de bem e mal), para múltiplas interpretações.

      A genealogia, projeto importante para a quebra dos “ídolos de barro” tinha como escopo, a transvaloração de todos os valores, ou seja a resignificação destes, afim de uma maior valorização da vida, a transvaloração, não sendo um conceito fechado também abarca o âmbito educacional.

       Nietzsche observa que o pensamento científico, que coloca as suas respostas como indubitáveis, igualando o não-igual, gera um pensar calcado na correção do erro e na crença de que o conhecimento tem um objetivo a ser alcançado. Ou seja, nas instituições de ensino, o aluno é adestrado e não instigado a pensar, o conhecimento para ele tem um fim a ser querido, é como se o aluno fosse uma máquina que mais tarde serviria com eficiência a pessoas com interesses maiores.

       O que vai existir portanto é uma massificação que exclui o que é diferente, onde os grandes pensamentos e visões são descartados quando não são interessantes para uma produção que gere lucro, ou seja a idéia de produção aliada a idéia de progresso, que já está presente na sua obra O nascimento da tragédia, na crítica ao homem moderno, que com seu otimismo teórico tenta corrigir a existência, como se houvessem formulas a se chegar a uma verdade, desprezando assim o caráter agonístico da vida. “Nietzsche argumenta que pensamento não é um processo abstrato, “lógico” que ocorre em uma consciência abstrata, e que o pensamento não é uma contemplação teórica e indiferente do mundo.”

O que acontece é que no ambiente educacional há uma castração da criatividade que é inerente a nossa composição, a objetividade é imposta e cada vez mais o aluno se torna prático e menos reflexivo, a importância do pensamento nietzschiano está em ver que os fatos não podem ser vistos de maneira redutória e mesquinha e sim numa forma que abarque as possibilidades de existência.        

A visão de Nietzsche é que, quando há interpretação ela dependeu de um referencial avaliativo, ou seja, a interpretação de cada pessoa está relacionada a criação de possibilidades de existência, que não são fechadas em uma verdade mas que também não caem em um relativismo absoluto, num sentido contingente, por se tratar de vida, e vida nunca poderá ser relativizada.       


Bibliografia:

As ilusões do eu:Spinoza e Nietzsche/ André Martins, Homero Santiago, Luís César Oliva. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,2011.
Nietzsche/Ullrich Haase; Tradução: Edgar da Rocha Marques – Porto Alegre: Artmed, 2011.
A doutrina da vontade de poder em Nietzsche/ Wolfrang Muller-Lauter; Tradução Oswaldo Giacóia -  São Paulo: Annablume, 1997.
Nietzsche: O rebelde aristocrata: biografia intelectual e balanço crítico/ Domenico Losurdo; Tradução de Jaime A. Clasen -  Rio de Janeiro: Revan, 2009.
Nietzsche e a verdade/ Roberto Machado. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
Signos e poderes em Nietzsche/ Kossovitch, Leon. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2004.
Nietzsche, sua filosofia dos antagonismos e os antagonismos da sua filosofia/ Wolfrang Muller-Lauter; Tradução de Clademir Araldi. – São Paulo: Editora Unifesp, 2009.
Coleção guias de filosofia, Nietzsche. Editora Escala, Edição 03.
Ecce Homo/ Nietzsche. De La traducción: Andrés Sánches Pascual. Alianza Editorial, S. A., Madrid, 1971.
Fragmentos Póstumos: 1885-1887. Nietzsche, Friedrich Wilhelm; Tradução Marco Antônio Casanova. -  Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013.
A visão dionisíaca do mundo, e outros textos de juventude. Frederich Nietzsche; Tradução Marcos Sinésio Pereira Fernandes, Maria Cristina dos Santos de Souza; Revisão da tradução Marco Casanova. – São Paulo: Martins Fontes, 2005.
A origem da tragédia. Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Tradução Joaquim José de Faria. São Paulo: Centauro, 2004.


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