Você não conhece Jack
É
muito comum ouvirmos a frase “ não pedi prá nascer", será que não?
O que sabemos a esse respeito? Em
milhões de espermatozóides, um único fecunda o Óvulo e dessa junção dá uma
combinação única, que se vingar, e for a termo , será vida, vida humana, uma pessoa, única, suas combinações genéticas, no máximo, podem ter semelhança, como no caso de gêmeos univitelinos, mas mesmo assim, não será cópia... vivemos uma vida única! E
como diz o cantor, “ a vida é tão rara...”
E como viver essa raridade?
Enfrentamos as dificuldades, aproveitamos
as alegrias, apreciamos os momentos de beleza, cultivamos o que chamamos de sentimentos bons, boas energias, que envolve o amor, a solidariedade, a compaixão... enfrentamos os desafios da
vida, mas o maior deles, a morte, este é, sem dúvida, o que nos mete mais medo! É estranho, que não
tenhamos medo de uma vida medíocre! É estranho como não temos medo de uma vida
egoísta,! É estranho como não temos medo de uma vida sem sonhos! E, no entanto,
temos medo da morte, do sofrimento, da dor...
Somos
capazes de ter compaixão de um cão, de um cavalo que não terá a plenitude da
vida, e no entanto, nos enchemos de pudor quando se trata do ser humano...
Temos
tanto medo da dor e somos incapazes de lidar e findar a dor alheia, deixamos
pessoas se consumir em doenças, sem a benevolência da compaixão que cesse
a sua dor... e no entanto, quem somos
nós para sabermos as respostas? Temos
verdadeiras histórias de resistência à morte, com uma péssima qualidade de
vida, onde a vida pode ser chamada de
sobrevivência e contra todas as respostas que a ciência ousa dar.
No
filme, você não conhece Jack, ele levanta a discussão de suicídio assistido, de
forma a minimizar a dor alheia, é feita avaliação, mas com quantos médicos? E
com quantos outros profissionais da saúde? Onde está o psicólogo? O
Fisioterapeuta? O Terapeuta Ocupacional? Onde Jack achou a resposta certa, e
tanta certeza? Na sua própria dor? Na sua perda?
O fato é que Jack tem a resposta e luta contra a seus pares, tão
corporativistas e sapientes quanto o Jack que, na realidade, reproduz, apesar
da aparência, a arrogância de se achar acima dos outros mortais, desafia o
sistema judiciário, que também se comporta como Jack, se mostra superior e no
entanto, a sua fragilidade aparece só para seus pares.
O que me chama a atenção
no filme, não é a discussão sobre o suicídio assistido, mas a arrogância
humana, a falta de humildade de simplesmente nos perguntarmos porque podemos
aliviar a dor de um cão, e não de um ser humano? E se entendemos que podemos
aliviar a dor , em casos de doenças progressivas, degenerativas, que vão
matando aos poucos de forma dolorosa, como explicamos casos em que a pessoa
resiste em condições que elas mesmas, quando lúcidas repudiavam a situação?
Como no caso de um rapaz noivo que ficou paraplégico aos 26 anos, por uma lesão
medular por arma de fogo, que aconteceu por defender um amigo, ele relatou o
seguinte: “ Antes, quando eu via alguém em uma cadeira de rodas, eu dizia que
preferia morrer se fosse comigo, hoje eu tô aqui, foi difícil, é difícil, mas
eu quero mais é viver, e sou feliz!”
Como vamos saber o que ainda não vivemos? E será que dá tempo de desistir?
Realmente,
determinadas doenças são cruéis, sobretudo quando afetam a consciência e impedem o desenvolvimento da
vida, do movimento, prende o sujeito na dor,
na demência, cerceia o ser humano no que há de mais sagrado, a sua
liberdade, liberdade de decidir,
liberdade de viver a vida com qualidade e plenitude.
O que me chama
atenção no filme, é o quanto somos prisioneiros de nossas vaidades. Como temos respostas tão fáceis assim? Jack
sempre se referia as pessoas doentes como: “o MEU paciente”, ele defendia o
interesse e o direito do paciente DELE morrer, com o que ELE achava que era
dignidade, era rechaçado pelos seus colegas de classe e mesmo assim, não tinha
dúvidas, desafia a sociedade, para provocar a discussão ou para provar a sua ideia a partir de sua experiência? Por outro lado, temos o sistema judiciário,
a quem Jack ousou DESAFIAR, porque provocar, era com um advogado, mas sozinho,
é desafiar, e para isso não há perdão... Então fica assim, uma briga de poder! O poder de duas classes, que se fossem mais
humildes teriam juntas buscado a melhor solução, não para Jack, não para o
paciente de Jack, não para o advogado de Jack, muito menos para o sistema ao
qual Jack pertence e que, na
verdade, nada mais é que retrato e
produto dele! Mas uma solução para o bem
do ser humano, para a pessoa que se encontra em uma situação de fragilidade
física e emocional, até para decidir, o que é melhor para si! E seria compaixão matar sem dor? Ou deixar
viver mesmo com e apesar da dor?
Afinal não estamos todos morrendo
todos os dias desde que nascemos, de forma lenta, progressiva e, de certa
forma, muitas vezes dolorosa? E será
que resistimos porque a vida, como diz o cantor, "é tão rara e pede só um pouco mais de
alma"?!
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