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domingo, 21 de outubro de 2012

Espaço do acadêmico - Clarissa Vieira


 Cristian, uma vítima?

Clarissa Vieira

A relação que o Homem possui com o Meio no qual está inserido gera grandes discussões sobre como o meio pode influenciar o psicológico e definir o comportamento do homem. Dois grandes conhecimentos que indiretamente se entrelaçam acerca desse assunto são o Determinismo Geográfico e a Teoria Ecológica, presente na Escola de Chicago.

O conceito de Determinismo Geográfico criado pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel não trata apenas de aspectos relacionados à geografia, mas é ligado a questoes sociológicas. O Determismo Geográfico trata de como o meio natural era essencial para determinadas questões fisiológicas e psicológicas do homem. O meio tambem seria responsável por criar raças melhores do que outras. Ratzel sofreu uma influência muito forte de Darwin. Podemos facilmente visulizar esse conceito na Escola de Chicago, a Teoria Ecológica, que trabalha com a ideia de equilíbrio entre o meio e a sociedade. A delinquência é uma resposta normal para um ambiente anormal. Surgiu durante o surto de expansão na cidade de Chicago durante o séc XX. A desorganização social é o fator central para a ocorrência dos crimes, mas também influenciam a deterioração da família e a decadência dos costumes e morais.

Christian é uma construção do seu meio, uma criança que desde início precisou de apoio e amparo por parte do Estado e que nunca teve, após cometer as infrações do qual é acusado tornou-se mais que um problema, tornou-se o objeto de repulsa que a sociedade teme – o criminoso.  Mas como, uma criança, que na época tinha 11 anos pode ser um criminoso?

 A história de Christian desde sua concepção não é fácil, ao contrário, ela é dura e cruel. Fruto de um estupro, filho de uma criança, pois a mãe tinha 12 anos no tempo de seu nascimento. Criado pela avó, viciada em crack. Espancado pelo padrasto. Que regras, normas, ensinamentos essa criança recebeu? A Psicologia já diz que as crianças reproduzem hábitos e ações dos indivíduos que eles tomam como “modelo”, sendo assim Christian apenas reproduziu atos que ele achava condizente como respostas para as interferências encontradas no caminho.  A teoria ecológica de Chicago tem como um exemplo fiel de sua teoria na história de Christian, de como o meio influência o indivíduo e sua personalidade.

A questão agora é o que fazer com Christian. 

Será que uma condenação de prisão perpétua irá sanar o problema? Ele não precisa ficar isolado do mundo pelo resto da vida, ele precisa ser readaptado para viver em sociedade, o menino não é doente e nem possui qualquer distúrbio significativo que seja considerado como um perigo real para a sociedade e motivo para seu isolamento. Ele não possuiu qualquer tipo de formação do seu ser, de construção de sua personalidade com base nas normas e condutas morais consideradas aceitáveis pelo Estado. Mas como ele deveria se comportar se seus “modelos” no qual ele buscava referências, não seguiam as normas previamente estabelecidas como aceitáveis? Christian antes de ser punido, deve saber o porquê da punição. Este problema esta além de Christian, isso envolve toda uma realidade, na qual participam o Estado, a sua família, a sociedade e instituições. Estas que criam e propagam formas de comportamentos aceitáveis e aquelas que são recriminadas, utilizado-as como forma de limites e como construções de personalidades. Uma das mais antigas instituições é a família. Ela é um instrumento para administrar e regular as relações interpessoais e relações que o homem tem com o meio. Essa instituição fez falta na vida de Christian, pois ela é uma das mais importantes, já que nos modela durante a nossa época mais frágil e influenciável da vida.

Os atos de Christian não são apenas condutas proibidas pelo ordenamento jurídico, elas representam uma falha do Estado, que não esteve presente e não amparou, primeiro a mãe de Christian, uma criança de 12 anos grávida do estuprador, e que posteriormente falha novamente com Christian. Agora vem exercer seu ius puniendi.  Para o Estado não seria interessante condenar o menino para prisão perpétua, afinal teria gastos, sempre elevados quando se trata de prisioneiros. No sistema em que vivemos, o Capitalismo, interessante seria reeducar a criança, para que essa possa se recuperar e assim produzir e consumir. Palavras-chaves no sistema.

 As reações que o menino teve são traduções do ambiente desestruturado, sem afeto e sem equilíbrio algum. Fica impossível saber como agir perto dessa criança que não possuiu parâmetro algum para se guiar e, por conseguinte não se definiu, juntamente com suas ações, sobre o que é certo e o errado.
 
Ao condenar uma criança e transformá-lo em “criminoso” é justamente isso que irá acontecer, Christian deixará de ser um garoto com problemas de comportamento e passará a ser um verdadeiro delinquente, afinal é isso o que o meio vai dizer, através da mídia, de opiniões sociais e das instituições envolvidas no julgamento. 

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