Cristian, uma vítima?
Clarissa Vieira
A relação que o Homem possui com o Meio no
qual está inserido gera grandes discussões sobre como o meio pode influenciar o
psicológico e definir o comportamento do homem. Dois grandes conhecimentos que
indiretamente se entrelaçam acerca desse assunto são o Determinismo Geográfico
e a Teoria Ecológica, presente na Escola de Chicago.
O conceito de Determinismo Geográfico criado
pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel não trata apenas de aspectos
relacionados à geografia, mas é ligado a questoes sociológicas. O Determismo
Geográfico trata de como o meio natural era essencial para determinadas
questões fisiológicas e psicológicas do homem. O meio tambem seria responsável
por criar raças melhores do que outras. Ratzel sofreu uma influência muito
forte de Darwin. Podemos facilmente visulizar esse conceito na Escola de
Chicago, a Teoria Ecológica, que trabalha
com a ideia de equilíbrio entre o meio e a sociedade. A delinquência é uma
resposta normal para um ambiente anormal. Surgiu durante o surto de expansão na
cidade de Chicago durante o séc XX. A desorganização social é o fator central
para a ocorrência dos crimes, mas também influenciam a deterioração da família
e a decadência dos costumes e morais.
Christian é uma construção do seu meio, uma
criança que desde início precisou de apoio e amparo por parte do Estado e que
nunca teve, após cometer as infrações do qual é acusado tornou-se mais que um
problema, tornou-se o objeto de repulsa que a sociedade teme – o
criminoso. Mas como, uma criança, que na
época tinha 11 anos pode ser um criminoso?
A
história de Christian desde sua concepção não é fácil, ao contrário, ela é dura
e cruel. Fruto de um estupro, filho de uma criança, pois a mãe tinha 12 anos no
tempo de seu nascimento. Criado pela avó, viciada em crack. Espancado pelo
padrasto. Que regras, normas, ensinamentos essa criança recebeu? A Psicologia
já diz que as crianças reproduzem hábitos e ações dos indivíduos que eles tomam
como “modelo”, sendo assim Christian apenas reproduziu atos que ele achava
condizente como respostas para as interferências encontradas no caminho. A teoria ecológica de Chicago tem como um
exemplo fiel de sua teoria na história de Christian, de como o meio influência
o indivíduo e sua personalidade.
A questão
agora é o que fazer com Christian.
Será que uma condenação de prisão perpétua
irá sanar o problema? Ele não precisa ficar isolado do mundo pelo resto da
vida, ele precisa ser readaptado para viver em sociedade, o menino não é doente
e nem possui qualquer distúrbio significativo que seja considerado como um
perigo real para a sociedade e motivo para seu isolamento. Ele não possuiu
qualquer tipo de formação do seu ser, de construção de sua personalidade com
base nas normas e condutas morais consideradas aceitáveis pelo Estado. Mas como
ele deveria se comportar se seus “modelos” no qual ele buscava referências, não
seguiam as normas previamente estabelecidas como aceitáveis? Christian antes de
ser punido, deve saber o porquê da punição. Este problema esta além de
Christian, isso envolve toda uma realidade, na qual participam o Estado, a sua
família, a sociedade e instituições. Estas que criam e propagam formas de
comportamentos aceitáveis e aquelas que são recriminadas, utilizado-as como
forma de limites e como construções de personalidades. Uma das mais antigas
instituições é a família. Ela é um instrumento para administrar e regular as
relações interpessoais e relações que o homem tem com o meio. Essa instituição
fez falta na vida de Christian, pois ela é uma das mais importantes, já que nos modela
durante a nossa época mais frágil e influenciável da vida.
Os atos de
Christian não são apenas condutas proibidas pelo ordenamento jurídico, elas
representam uma falha do Estado, que não esteve presente e não amparou,
primeiro a mãe de Christian, uma criança de 12 anos grávida do estuprador, e
que posteriormente falha novamente com Christian. Agora vem exercer seu ius puniendi. Para o Estado não seria interessante
condenar o menino para prisão perpétua, afinal teria gastos, sempre elevados
quando se trata de prisioneiros. No sistema em que vivemos, o Capitalismo,
interessante seria reeducar a criança, para que essa possa se recuperar e assim
produzir e consumir. Palavras-chaves no sistema.
As
reações que o menino teve são traduções do ambiente desestruturado, sem afeto e
sem equilíbrio algum. Fica impossível saber como agir perto dessa criança que
não possuiu parâmetro algum para se guiar e, por conseguinte não se definiu,
juntamente com suas ações, sobre o que é certo e o errado.
Ao condenar uma criança e
transformá-lo em “criminoso” é justamente isso que irá acontecer, Christian
deixará de ser um garoto com problemas de comportamento e passará a ser um
verdadeiro delinquente, afinal é isso o que o meio vai dizer, através da mídia,
de opiniões sociais e das instituições envolvidas no julgamento.
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