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domingo, 11 de fevereiro de 2018

Erich Fromm

 Diferentes formas de agressão

Deparamo-nos no dia-a-dia com uma série de manifestações de agressões. É necessário que se entenda que algumas delas são necessárias à sobrevivência do ser humano e outras permitem os indispensáveis ajustes para a manutenção do equilíbrio social. Essas diferentes formas de violência foram percebidas por Erich Fromm. (Erich Fromm, O coração do homem, Zahar Editores.)

I - VIOLÊNCIA RECREATIVA

Sua abordagem, baseada nas motivações inconscientes, continua merecendo atenção. Para ele, a violência recreativa é uma forma não patológica e pode ser observada nas atividades onde ela é exercida com o fim de exibir perícia e não de provocar destruição. Na hipótese não existe ódio ou destrutividade em sua motivação. O tipo se faz presente nos jogos guerreiros em tribos, nas artes marciais ou competições esportivas onde o emprego da força se faz necessário para a vitória ou até em jogos eletrônicos.

II - VIOLÊNCIA REATIVA

A violência reativa, com suas raízes no medo (real ou imaginário, consciente ou não), é uma forma mais frequente. É empregada na defesa da vida, liberdade, propriedade ou dignidade. Por objetivar preservar e não destruir, suas consequências morais e legais são admitidas como aceitáveis, sob o nome de legítima defesa, mesmo que ocorra perda de outra vida.

III - VIOLÊNCIA POR FRUSTRAÇÃO

A violência por frustração é um tipo da violência reativa exercitada por animais, crianças e homens. Surge quando um desejo ou necessidade não atinge o seu objeto ou não se integraliza. Nessa categoria está a hostilidade nascida da inveja ou ciúme. Deve-se observar que o ciúme sempre foi considerado um sentimento capaz de deflagrar as mais violentas reações, conforme se verifica até no Livro do Êxodo onde se encontra o verbo hebraico qana, usualmente traduzido por “ciumento”. É interessante notar, contudo, que os mais recentes estudos demonstram que qana possui o sentido primitivo de “ser incandescente, arder, flamejar”. As traduções desse verbo para o árabe resultam em “tornar-se muito vermelho”, “provocar irritação, inveja, ciúme”. Qina tem o sentido primeiro de “paixão ou violenta excitação”. Qina pode tornar-se, contudo “inimizade” ou “ódio”. Curiosa à percepção da sequência de sensações: qana parte de “ser incandescente, arder”, transformando-se em “tornar-se muito vermelho”, “ciúme” e concluindo em qina, “inimizade” ou “ódio”. (André Chouraqui, A Bíblia - Êxodo, pág. 245, Imago Editora.)

IV - VIOLÊNCIA VINGATIVA

Conduzindo suas observações para a proximidade do patológico, Fromm considera a violência vingativa, cuja prática representa um desejo e possui a função fantasiosa de desfazer magicamente o que foi feito na realidade. Essa violência curiosamente se faz presente tanto em grupos primitivos quanto em sociedades civilizadas. Por independer do grau de desenvolvimento de um povo, pode-se considerar que ela faz parte da própria natureza humana. Observa Fromm ser mais forte a sua manifestação na ordem indireta da autoestima e produtividade e na ordem direta do empobrecimento econômico e cultural. Suas manifestações são sentidas a partir do desmoronamento da fé que ocorre em uma criança pela quebra da imagem positiva que faz dos pais, da família, dos amigos, religião e até no adulto que, ludibriado e desapontado, torna-se um elemento cínico e destruidor. Alimenta então o desejo de provar que a maldade impera e que os homens, a vida e ele próprio são igualmente maus. Por não tolerar mais o desapontamento, leva com isso o ódio à vida.

V - VIOLÊNCIA COMPENSATÓRIA

Já a violência compensatória é uma forma claramente patológica. Ela é empregada como um processo substitutivo da atividade do agente que se descobre impotente perante a vida. O homem que se vê incapaz de tornar realidade seus desejos e toma consciência de ter se transformado em um simples objeto e joguete das circunstâncias. Em virtude de sua debilidade não é capaz de cumprir o papel de elemento criador ou transformador e se ressente de sua situação. Por não possuir as qualidades necessárias para criar a vida faz a opção por destruí-la, por ser este o caminho mais fácil, bastando-lhe para tanto a vontade viciada, que já possui, ou de uma arma. Compensa seu fracasso destruindo ou desorganizando a vida, nos outros ou em si próprio.

Muito se tem dito sobre ser o problema da manifestação de violência por parte do homem muito mais biológico que psicológico. Algumas pessoas nasceriam com falhas na estrutura do caráter e apresentariam características biológicas voltadas para a agressividade e desconhecendo as sensações de afetividade. Teriam uma natureza mórbida, nascendo geneticamente mal formadas e agindo por instinto.

Um criminoso dessa qualidade é um psicopata perverso. Já nasce com uma destinação biológica para a crueldade. Sua percepção do sentimento de rejeição que ele causa e as pressões familiares estabelecidas ao seu redor desencadeiam o grave desvio de conduta. Acentuada a doença, é exaltada a sensação de ódio e devastador desejo de vingança.

Já foi lembrando que o homem é anatomicamente um animal como outro qualquer; a única diferença substancial é que possui um lobo frontal um pouco mais desenvolvido do que as outras espécies. Porém todos nós guardamos, lá no fundo e em estado latente no código genético, uma porção selvagem, sempre pronta a revigorar-se. Para os irracionalistas o que diferencia homem moderno do primitivo é apenas uma tênue camada de verniz chamada civilização. Arranhada esta, por estímulos sociais ou defeitos biológicos, seu lado animal virá à tona. Assim haveria uma predisposição física para o procedimento agressivo.

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