Yvone, interpretada por
Letícia Sabatella em Caminhos das Índias, é sempre lembrada pela sua capacidade
de manipulação e a forma como conseguiu sair impune de tudo o que fez durante o
decorrer da trama. Pessoas como a mesma não existem apenas na ficção. Trata-se
dos estelionatários. Além do estudo relacionado a própria letra da lei, o
estelionato é questão de grande discussão na criminologia, onde busca-se
entender o perfil dos estelionatários.
O
crime de estelionato é definido no art. 171 do Código Penal brasileiro. É o
chamado crime da inteligência, que consiste em uma forma de ganho patrimonial em
que a própria vítima acredita que está fazendo a coisa certa. Em outras
palavras, o agente age de modo muito bem planejado para conseguir o que deseja
da vítima, contando com o auxílio da mesma.
O
perfil dos estelionatários é o oposto do que é esperado de um criminoso. Trata-se
de pessoas discretas, simpáticas, bem apresentáveis e que passam segurança para
suas vítimas. Sua principal característica é o perfil manipulador. De forma
inexplicável, eles conseguem tirar de cada pessoa que passa no seu caminho exatamente
o necessário para dar continuidade aos seus planos. Normalmente fazem uso de um
interesse ou ingenuidade da vítima para conseguir o que desejam.
Os chamados
estelionatários de alta sociedade estão presentes em todo lugar. São pessoas
que vivem exclusivamente para isso, fazendo do estelionato sua única fonte de
renda. A personagem em questão é um bom exemplo. Mudou-se diversas vezes, tendo
aplicado o golpe e obtido tudo o que desejava, ela sempre ia em busca de novas
vítimas para aumentar o seu patrimônio, sempre em detrimento do patrimônio de
outrem. Yvone foi criada pela autora Glória Perez, inspirada na leitura do
livro “Mentes Perigosas – o psicopata mora ao lado”.
A psiquiatra Ana
Beatriz Barbosa afirmou que a personagem de Glória Perez é a chamada “psicopata
moderada”, ou seja, aquela que não é capaz de matar mas que é capaz de
manipular pessoas de boa fé visando atingir seus objetivos, sem se importar com os danos que causa na vida
dos outros. Sabem distinguir perfeitamente o que é certo e errado e, friamente,
costumam inclusive amparar-se no próprio texto legal para enquadrar-se no mesmo
e decidem até onde vale a pena – literalmente – de seus atos.
Importante ressaltar
que estelionatário não é necessariamente sinônimo de psicopata e vice versa. Há
os chamados estelionatários por ocasião, são aqueles que encontram uma oportunidade
como, por exemplo, idosos saindo de agência bancárias com quantias
consideráveis a aplicam golpes menos complexos como inventar que tem parente
doente que mora no interior, precisa de dinheiro para passagem de ônibus e em
troca pelo dinheiro em especial oferece cheque sem fundo, etc. Muitos também são aqueles que eventualmente
aplicam esses golpes, mas não se envolvem de forma tão intensa na vida das suas
vítimas.
O crime de estelionato
possui outra característica marcante: a impunidade. Há muita discussão sobre a
dificuldade de punir os estelionatários. Uma rápida pesquisa na jurisprudência nacional
é suficiente para observar a quantidade de processos relacionados ao crime de
estelionato que não foram julgados no mérito por falta de provas, mesmo quando
reconhece-se a periculosidade do agente. Como muitos dos atos cometidos pelos
estelionatários são feitos pela própria vítima, há um certo grau de complexidade
para provar até onde vai a culpabilidade do agente e onde limita-se, ou deveria
limitar-se, o bom senso da própria vítima. Também é comum o crime de
estelionato está ligado ao crime de falsidade ideológica, sendo muitas vezes
impossível a simples identificação do agente.
Espera-se que o Novo
Código Penal possibilite uma punibilidade mais eficaz para os crimes de
estelionato, fazendo uso da criminologia para no momento da pena aplica-la de
modo condizente a real condição do estelionatário, quando necessário. Diante
mão, é necessário um alerta para que a sociedade esteja atenta ao real perigo dos
estelionatários.
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