Suicídio
Precaver-se contra um defunto
tornava-se ainda mais necessário se este era um suicida. Na Grécia antiga
cortava-se lhe a mão direita. Sua vontade de morrer era considerada uma
manifestação de ódio em relação à vida e aos vivos.
No Ocidente “moderno”,
faziam-no sair da casa onde jazia, seja lançando-o pela janela, seja – por
exemplo, Lille no século XVII – fazendo-o “passar por baixo da soleira da casa
por um buraco, com a face contra a terra como um animal”. Gesto de conjuração que
lembra que todo morto é maléfico.
O padre Thiers conta ainda
que no Perche a rouba branca usada pelo
defunto durante sua doença devia ser lavada à parte para impedir “que causasse
a morte daqueles que a usariam depois dele”. Do mesmo modo, a colocação da
mortalha devia ser feita não sobre a mesa do quarto onde ocorrera o falecimento,
mas sobre um banco ou no chão, senão “alguma outra pessoa da casa morreria no
mesmo ano”.
O rito descrito é ambíguo. Do
ponto de vista etnográfico, significa que se queria impedir o culpado de
reencontrar o caminho de sua casa – razão pela qual o faziam passar pela janela
e com o rosto voltado para baixo.
Mas, para a Igreja, aquele que
pusera fim aos seus dias desesperara do perdão divino. Excluíra-se assim da
comunidade cristã: o que era marcado de maneira ostensiva.
(DELUMEAU, Jean. História
do medo no Ocidente São Paulo: Cia das Letras. 2009. P. 134/135)
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