Infanticídio
O estado
puerperal e o índio brasileiro
Quando as índias entram em dores
de parir, não buscam parteiras, não se guardam do ar, nem fazem outras
cerimônias, parem pelos campos e em qualquer outra parte como uma alimária; e
em acabando de parir, se vão ao rio ou a fonte, onde se lavam, e as crianças que
pariram; e vêm-se para casa, onde o marido se deita logo na rede, onde está
muito coberto, até que seca o umbigo da criança; no qual visitam seus parentes
e amigos, e lhes trazem presentes de comer e beber, e a mulher lhe faz muitos
mimos, enquanto o marido está assim parido, o qual está muito empanado para que
lhe não dê o ar; e dizem que se lhe der o ar que fará muito nojo à criança, e
que se se erguerem e forem ao trabalho
que lhes morrerão os filhos, e que eles serão doentes da barriga; e não há quem
lhes tire da cabeça que da parte da mãe não há perigo, senão da sua; porque o
filho lhe saiu dos lombos, e que elas não põem de sua parte mais que terem
guardada a semente no ventre onde se cria a criança.
Como nascem os filhos aos
tupinambás, logo lhes põem o nome que lhe parece; os quais nomes que usam entre
si são de alimárias, peixes, aves, árvores, mantimentos, peças de armas e
doutras coisas diversas; aos quais furam logo o beiço debaixo, onde lhes põem,
depois que são maiores, pedras por gentileza.
Não dão aos tupinambás a seus
filhos nenhum castigo, nem os doutrinam, nem os repreendem por coisa que façam;
aos machos ensinam-nos a atirar com arco e flechas ao alvo, e depois aos
pássaros; e trazem-nos sempre às costas até a idade de sete ou oito anos, e o mesmo às fêmeas; e
uns e outros mamam na mãe até que torna a parir outra vez; pelo que mamam
muitas vezes seis e sete anos; às fêmeas ensinam as mães a enfeitar-se, como
fazem as portuguesas e a fiar algodão e a fazer o mais serviço de suas casas conforme
a seu costume.
Fonte: Gabriel Soares de Souza. Tratado descritivo do Brasil em 1587.
Coleção Brasiliana Vol. 117. Cia Ed. Nacional e Editora da Universidade de São
Paulo. 1971.
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