Crime sem preço:
Juiz manda soltar acusados
de furtar duas melancias
por Ronaldo Herdy
A Escola Nacional de Magistratura
incluiu, na sexta-feira (30/6), em seu banco de sentenças, o despacho pouco
comum do juiz Rafael Gonçalves de Paula, da 3ª Vara Criminal da Comarca de
Palmas, em Tocantins. A
entidade considerou de bom senso a decisão de seu associado, mandando soltar
Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha, detidos sob acusação de
furtarem duas melancias.
“Para conceder a liberdade aos
indiciados, eu poderia invocar inúmeros fundamentos: os ensinamentos de Jesus
Cristo, Buda e Gandhi, o Direito natural, o princípio da insignificância ou
bagatela, o princípio da intervenção mínima, os princípios do chamado Direito
alternativo, o furto famélico, a injustiça da prisão de um lavrador e de um
auxiliar de serviços gerais em contraposição à liberdade dos engravatados que
sonegam milhões dos cofres públicos, o risco de se colocar os indiciados na
universidade do crime (o sistema penitenciário nacional)”, destacou o juiz na
sentença.
“Poderia sustentar que duas melancias
não enriquecem nem empobrecem ninguém. Poderia aproveitar para fazer discurso
contra a situação econômica brasileira, que mantém 95% da população
sobrevivendo com o mínimo necessário. Poderia brandir minha ira contra os
neo-liberais, o Consenso de Washington, a cartilha demagógica da esquerda, a
utopia do socialismo, a colonização européia. Poderia dizer que George W. Bush
joga bilhões de dólares em bombas na cabeça dos iraquianos, enquanto bilhões de
seres humanos passam privação na Terra — e aí, cadê a Justiça nesse mundo?”
O juiz Rafael Gonçalves de Paula
concluiu admitindo “não saber argumentar diante de tamanha obviedade. Tantas
são as possibilidades que ousarei agir em total desprezo às normas técnicas:
não vou apontar nenhum desses fundamentos como razão de decidir. Simplesmente
mandarei soltar os indiciados. Quem quiser que escolha o motivo”.
Fonte: Revista Consultor Jurídico,
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