Os cuidados quanto aos defuntos
DELUMEAU,
Jean. História do medo no Ocidente São Paulo: Cia das
Letras. 2009. P. 134/135
“Precaver-se
contra um defunto tornava-se ainda mais necessário se este era um suicida. Na
Grécia antiga cortava-se lhe a mão direita. Sua vontade de morrer era
considerada uma manifestação de ódio em relação à vida e aos vivos.
No Ocidente
“moderno”, faziam-no sair da casa onde jazia, seja lançando-o pela janela, seja
– por exemplo, Lille no século XVII – fazendo-o “passar por baixo da soleira da
casa por um buraco, com a face contra a terra como um animal”.Gesto de
conjuração que lembra que todo morto é maléfico. O padre Thiers conta ainda
que no Perche a roupa branca usada pelo
defunto durante sua doença devia ser lavada à parte para impedir “que causasse
a morte daqueles que a usariam depois dele”. Do mesmo modo, a colocação da
mortalha devia ser feita não sobre a mesa do quarto onde ocorrera o
falecimento, mas sobre um banco ou no chão, senão “alguma outra pessoa da casa
morreria no mesmo ano”.
O
rito descrito é ambíguo. Do ponto de vista etnográfico, significa que se queria
impedir o culpado de reencontrar o caminho de sua casa – razão pela qual o
faziam passar pela janela e com o rosto voltado para baixo.
Para a Igreja,
aquele que pusera fim aos seus dias desesperara do perdão divino. Excluíra-se
assim da comunidade cristã: o que era marcado de maneira ostensiva. Na maior
parte das províncias da França acreditou-se nas “lavadeiras noturnas”,
obrigadas até o fim do mundo a bater e torcer a roupa porque haviam cometido
infanticídios ou enterrado parentes de forma indigna ou ainda trabalhado muito
frequentemente aos domingos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário