Obsoleta a definição tradicional de morte clínica
Milton
Glezer - Professor da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP (SP).
O conceito de morte vem sofrendo mudanças no
decorrer do tempo. Os avanços da medicina, que
incluem técnicas de ressuscitação cardíaca, respiradores
artificiais e circulação extracorpórea, tornaram obsoleta
a definição tradicional de morte clínica. As dificuldades
no atendimento de pacientes críticos nas Unidade de
Urgência e Emergência e nas Unidades de Cuidados
Intensivos levam também à necessidade da definição
do diagnóstico de morte encefálica com a finalidade
de estabelecer o prognóstico dos pacientes, orientar a
conduta médica, oferecer informações aos familiares,
além de otimizar leitos dentro das complexas
instituições hospitalares.
A tecnologia moderna que prolonga uma vida de
modo indefinido através de técnicas artificiais torna
imperativo que se defina a morte clínica.
Os programas de transplante de órgãos que os
exigem em sua melhor performance exigem para o
sucesso do método uma conceituação perfeita do
critério de morte.
Segundo Fred Plum, em sua obra “The diagnoses
of stu and coma”, muitas vezes os esforços para
atender desnecessariamente a vida vegetativa de um
paciente arruínam sua família e desacreditam a
profissão do médico.
Atualmente, se aceita o conceito de morte encefálica
como o de morte clínica, contando-se com o apoio
da grande maioria das autoridades civis e religiosas(1).
A responsabilidade para determinação da cessação
irreversível da atividade
cerebral cabe ao neurologista(2).
O papa Pio XII, em 1958, declarou que todo
pronunciamento sobre a morte é de responsabilidade
da medicina e não da Igreja. Concerne ao médico dar
uma precisa e clara definição de morte e do momento
em que ocorreu.
Mollaret & Goullon, em 1959, descreveram a
situação de “coma dépasseé”, situação essa em que
encontramos um cérebro morto num corpo vivo. Desde
então, muitos autores têm tentado demonstrar como
se define e se diagnostica a morte encefálica. O trabalho
mais reconhecido é o da Ad Hoc Committee of the
Harvard Medical School, que passa a definir o chamado
coma irreversível.
Os critérios utilizados atualmente são muito
semelhantes, diferindo apenas em relação ao tempo
de observação do paciente e em relação à realização
ou não de exames subsidiários comprobatórios da morte
encefálica.
Em quaisquer dos protocolos hoje utilizados
existem dois pontos básicos que são indispensáveis
:
conhecida, seja ela uma lesão estrutural ou
metabólica;
2. estruturas vitais do encéfalo necessárias para manter
a consciência e a vida vegetativa estão lesadas
irreversivelmente.
No Brasil, o conceito de morte encefálica foi feito
por ocasião do primeiro transplante a partir de cadáver
em 1968. Tal conceito era baseado apenas em critérios
eletroencefalográficos.
Em 1983, o Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da USP, pioneiro no transplante de órgãos
na América Latina, estabeleceu seu critério de morte
encefálica.
Tal critério é baseado na constatação clínica de um
coma aperceptivo, ausência de reflexos ou movimentos
supra-espinais, sendo excluídas as situações de
hipotermia e depressão medicamentosa com uma
observação mínima de seis horas. Tal achado clínico
deve ser necessariamente respaldado por um exame
subsidiário que demonstre inequivocamente ausência
de atividade elétrica cerebral ou ausência de perfusão
sanguínea cerebral ou de atividade metabólica.
A grande maioria dos critérios de morte encefálica
exclui as crianças com menos de sete dias, pois não há
um consenso na literatura sobre o diagnóstico e
confirmação
da situação de morte encefálica em crianças
abaixo de sete dias(3-4).
Texto da revista einstein
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