É inexorável a influência de
Zaffaroni e Ferrajoli em praticamente todos os doutrinadores do Direito Penal,
o primeiro destes defendeu a teoria da coculpabilidade da sociedade, como se
esta fosse a causa da violência dos dias atuais. Não obstante, é como se
qualquer pessoa de condições financeiras aquém do necessário fosse incapaz de
fazer uma escolha moral.
Quando nos deparamos com a doutrina penal, os escritores
pregam que a sanção é ineficiente para a manutenção da paz, não sendo capaz de
ressocializar, quiçá diminuir os crimes, por mais rigorosa que seja. Dizem, igualmente,
que medidas como pena de morte e prisão perpétua são incapazes de diminuir a
criminalidade. Os doutrinadores punitivistas conservadores, como Nélson Hungria
e Magalhães Noronha, não estão mais presentes nas livrarias ou, por sorte,
estão escondidos. Todavia, o que seria capaz de refrear as 50.108 mortes de
2012, divulgadas pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados em
novembro de 2013? É mister trazer a baila que esses dados são oficiais, a
realidade, contudo, deve ser muito mais assombrosa.
Cesar Beccaria, em seu livro “Dos Delitos e das Penas”, de
relevância incontestável para o desenvolvimento do estudo criminológico, diz
que:
"Não é o
rigor do suplício que previne os crimes com mais segurança, mas a certeza do
castigo, o zelo vigilante do magistrado e essa severidade inflexível que só é
uma virtude no juiz quando as leis são brandas.
A perspectiva de
um castigo moderado, mas inevitável causará sempre uma forte impressão mais
forte do que o vago temor de um suplício terrível, em relação ao qual se
apresenta alguma esperança de impunidade.
O homem treme à
idéia dos menores males, quando vê a impossibilidade de evitá-los; ao passo que
a esperança, doce filha do céu, que tantas vezes nos proporciona todos os bens,
afasta sempre a idéia dos tormentos mais cruéis, por pouco que ela seja
sustentada pelo exemplo da impunidade, que a fraqueza ou o amor do ouro
tão freqüentemente concede.
As vezes, a gente
se abstém de punir um delito pouco importante, quando o ofendido perdoa. É um
ato de benevolência, mas um ato contrário ao bem público. Um particular pode
muito bem não exigir a reparação do mal que se lhe fez; mas, o perdão que ele
concede não pode destruir a necessidade do exemplo."
Para que as
palavras do italiano sejam avaliadas, trago os dados estatísticos de nosso
país:
A taxa de mortes
em São Paulo é a segunda menor do país, 12,4 por 100.000 habitantes, enquanto a
da Bahia, terceira maior do país, é de 40,7. Se a nacional correspondesse
à paulista,salvar-se-iam 26.027 vidas.
Com
22% da população, São Paulo concentra 36% dos presos do país (549.786), ou
633,1 por 100 mil. A Bahia tem a maior desproporção entre mortos por 100 mil
(40,7) e encarcerados: 134.
Fatores sociais não
podem ser ignorados, mas é incontestável que prender mais bandidos e colocar
mais policiais nas ruas, de preferência mais capacitados que os atuais, não
menosprezando o trabalho efetuado por estes, são políticas que funcionam no
combate à criminalidade.
Entretanto, analisemos
nossa sociedade, Nelson Rodrigues, em suas Confissões à década de 60,
fez importante paralelo com o início do século XX, disse que nestes tempos, as
pessoas praticavam crimes por fome, já nos tempos em que escrevia, chegaram a
roubar o que era supérfluo. É
fato histórico as mudanças que passaram a ocorrer na cultura a partir da década
de 50, o mundo todo passava por mudanças culturais em todos os grupos sociais,
logo, uma mudança moral e principiológica ocorria em dimensões internacionais.
Portanto, é inexorável que o abandono ou simples esquecimento de certos valores
e princípios fomentaram o aumento da criminalidade.
É
óbvio que aumentar a quantidade de policiais e prender aqueles que transgridem
a lei não elimina a violência, mas contraditoriamente ao que pensam os
aprendizes de Ferrajoli e Zaffaroni, é de grande relevância para a manutenção
da paz e da ordem. Mais o coerente seria, ao menos a longo prazo, resgatar
valores esquecidos por aqueles que tentam resolver os problemas do presente sem
olhar o passado.
Obs.: O texto acima está sendo republicado em razão de sua atualidade. Dados recentes informam que no Brasil, hoje, ocorrem 10 homicídios a cada 9 minutos e 10 estupros a cada 10 minutos. O jornal "The Guardian" publicou no dia 12 do corrente matéria onde consta o fato de termos a polícia mais violenta (Brazilian police kill six people a day, says
report. Brazilian
police ‘make abusive use of lethal force to respond to crime and violence’,
says study by public safety NGO).
Torna-se indispensável uma revisão nas nossas crenças e instituições.
Nenhum comentário:
Postar um comentário