Comentário sobre o trabalho da Dra. Ana
Beatriz Barbosa
O crime é um produto
da aprendizagem a de relações grupais. Edwin Suthertland, em 1930, falou sobre
“a grande diversidade do comportamento criminoso e a multiplicidade de
influências na conduta criminal.”
A teoria da
associação diferencial e do aprendizado, exposta por Sutherland. Sofreu
críticas, especialmente por ter relegado os fatores biológicos e psicológicos,
mas o seu aparecimento para investigar os aspectos socioculturais da
criminalidade, além de propiciar o surgimento de promissoras concepções nessa
área, ratificou o princípio de que a criminalidade, relacionada com o conjunto da estrutura social, é fenômeno inerente
ao funcionamento da sociedade.
Sendo o crime um fato
humano, é obvio que nele estão contidos os fatores sociais e biológicos. As
influências socioculturais para a formação da personalidade ou realização
social do homem, atuando sobre a individualização biológica, não permitem
definir o comportamento humano em termos de casualidade determinista e, sim,
através de condicionamentos probabilistas, daí a compreensão de que na conduta
criminosa a dimensão sociológica é complementar das dimensões biológica,
psicológica e culturológica.
Os animais possuem um
comportamento geneticamente instintivo (cupim, abelhas) enquanto os homens
definem suas ações através da cultura.
O comportamento
criminal está direta ou indiretamente vinculado aos padrões de vida na sociedade,
daí a compreensão sociológica de ser o crime um fenômeno preponderantemente
social. Desse modo, o ajustamento da personalidade tanto nos leva a uma vida de
acordo com o grau de moralidade média de uma coletividade, como pode seguir
rumo à direção de um padrão contrário, quando, por exemplo, a reação
adaptativa, necessária ao convívio social, extrapola essa faixa, caminhando
para a agressividade patológica, nociva à sociedade, gerada pelas pressões da
vida moderna, tensões emocionais, estados de ansiedade, angústia, insegurança e
carência afetiva.
Desde criança
aprendemos o estilo da sociedade a qual pertencemos e, de acordo com a
interiorização das normas sociais, daremos modelo ao comportamento assumido. A
síndrome delinquencial resulta, constantemente, do conflito de valores pela
falta de sublimação dos sentimentos, pela falta de preparo para superar a
ansiedade, a insegurança e o medo.
Quando o mundo
exterior cerca a vida do adolescente vão ocorrendo mutações na percepção, na
volição e na maneira de sentir. Se essas mudanças não encontram no âmbito
familiar, no ambiente da comunidade os estímulos saudáveis para acompanhar as
modificações, muito certamente termos o indivíduo sujeitado às regras do
desajuste ou mesmo da delinquência. A existência de fortes padrões culturais é
indispensável para o funcionamento e conservação de qualquer sociedade.
Pela aprendizagem no
dia a dia a criança assimila a cultura em que está situada, realizando o
processo de interiorização. Se ela vem de um grupo que vive em conflito de
culturas ela é conduzida a outro grupo para compensar a sua insegurança e
ansiedade em face das carências afetivas.
A alma infantil não
nasce perversa, dotada de instintos bestiais e nem é, exclusivamente levada a
pureza e a bondade. Em toda criança existem sempre disposições egoísticas que
podem ser atenuadas gradativamente e se transformam em senso moral através do
processo de evolução de sua personalidade, e sobretudo, sob a influência da
educação. [...]
Hoje a vida em
sociedade não é tão fácil. O primeiro passo do indivíduo carente social é matar
pela sobrevivência. O processo de marginalização dessas classes sociais leva o homem a se
tornar cada vez mais agressivo e preparado emocionalmente para o crime.
Os valores morais das
classes marginalizadas são exatamente opostos aos que nós defendemos como os
melhores da sociedade atual. Vivemos em verdadeira crise social, onde as
soluções em prática parecem estar falidas diante da prosperidade do círculo
vicioso do egoísmo do ódio e da violência.
Somos herdeiros das conquistas em
prol dos direitos humanos e, no entanto, vivemos em um mundo onde imperam a
agressividade e o egoísmo. Sentimos reviver a violência passada, em novas e
antigas formas de criminalidade, como, por exemplo, a pirataria, o terrorismo,
a arbitrariedade policial, as lutas de rua. As grandes metrópoles causam uma
ruptura no equilíbrio na vida comunitária pela destruição das antigas formas de
convivência, pelo desaparecimento dos vínculos naturais, com a desintegração da
família, com a justaposição de homens que se angustiam na busca de
reconhecimento social e de participação na sociedade de consumo. (Miguel Reale
Júnior)
Fonte: Mentes Perigosas - Ana Beatriz Barbosa e Miguel Reale Júnior
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