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domingo, 5 de março de 2017

Esquizofrenia

Comentário sobre o trabalho da Dra. Ana Beatriz Barbosa





O crime é um produto da aprendizagem a de relações grupais. Edwin Suthertland, em 1930, falou sobre “a grande diversidade do comportamento criminoso e a multiplicidade de influências na conduta criminal.”

A teoria da associação diferencial e do aprendizado, exposta por Sutherland. Sofreu críticas, especialmente por ter relegado os fatores biológicos e psicológicos, mas o seu aparecimento para investigar os aspectos socioculturais da criminalidade, além de propiciar o surgimento de promissoras concepções nessa área, ratificou o princípio de que a criminalidade, relacionada com  o conjunto da estrutura social, é fenômeno inerente ao funcionamento da sociedade.

Sendo o crime um fato humano, é obvio que nele estão contidos os fatores sociais e biológicos. As influências socioculturais para a formação da personalidade ou realização social do homem, atuando sobre a individualização biológica, não permitem definir o comportamento humano em termos de casualidade determinista e, sim, através de condicionamentos probabilistas, daí a compreensão de que na conduta criminosa a dimensão sociológica é complementar das dimensões biológica, psicológica e culturológica.

Os animais possuem um comportamento geneticamente instintivo (cupim, abelhas) enquanto os homens definem suas ações através da cultura.

O comportamento criminal está direta ou indiretamente vinculado aos padrões de vida na sociedade, daí a compreensão sociológica de ser o crime um fenômeno preponderantemente social. Desse modo, o ajustamento da personalidade tanto nos leva a uma vida de acordo com o grau de moralidade média de uma coletividade, como pode seguir rumo à direção de um padrão contrário, quando, por exemplo, a reação adaptativa, necessária ao convívio social, extrapola essa faixa, caminhando para a agressividade patológica, nociva à sociedade, gerada pelas pressões da vida moderna, tensões emocionais, estados de ansiedade, angústia, insegurança e carência afetiva.

Desde criança aprendemos o estilo da sociedade a qual pertencemos e, de acordo com a interiorização das normas sociais, daremos modelo ao comportamento assumido. A síndrome delinquencial resulta, constantemente, do conflito de valores pela falta de sublimação dos sentimentos, pela falta de preparo para superar a ansiedade, a insegurança e o medo.

Quando o mundo exterior cerca a vida do adolescente vão ocorrendo mutações na percepção, na volição e na maneira de sentir. Se essas mudanças não encontram no âmbito familiar, no ambiente da comunidade os estímulos saudáveis para acompanhar as modificações, muito certamente termos o indivíduo sujeitado às regras do desajuste ou mesmo da delinquência. A existência de fortes padrões culturais é indispensável para o funcionamento e conservação de qualquer sociedade.

Pela aprendizagem no dia a dia a criança assimila a cultura em que está situada, realizando o processo de interiorização. Se ela vem de um grupo que vive em conflito de culturas ela é conduzida a outro grupo para compensar a sua insegurança e ansiedade em face das carências afetivas.

A alma infantil não nasce perversa, dotada de instintos bestiais e nem é, exclusivamente levada a pureza e a bondade. Em toda criança existem sempre disposições egoísticas que podem ser atenuadas gradativamente e se transformam em senso moral através do processo de evolução de sua personalidade, e sobretudo, sob a influência da educação. [...]

Hoje a vida em sociedade não é tão fácil. O primeiro passo do indivíduo carente social é matar pela sobrevivência. O processo de marginalização  dessas classes sociais leva o homem a se tornar cada vez mais agressivo e preparado emocionalmente para o crime.
Os valores morais das classes marginalizadas são exatamente opostos aos que nós defendemos como os melhores da sociedade atual. Vivemos em verdadeira crise social, onde as soluções em prática parecem estar falidas diante da prosperidade do círculo vicioso do egoísmo do ódio e da violência.  


Somos herdeiros das conquistas em prol dos direitos humanos e, no entanto, vivemos em um mundo onde imperam a agressividade e o egoísmo. Sentimos reviver a violência passada, em novas e antigas formas de criminalidade, como, por exemplo, a pirataria, o terrorismo, a arbitrariedade policial, as lutas de rua. As grandes metrópoles causam uma ruptura no equilíbrio na vida comunitária pela destruição das antigas formas de convivência, pelo desaparecimento dos vínculos naturais, com a desintegração da família, com a justaposição de homens que se angustiam na busca de reconhecimento social e de participação na sociedade de consumo. (Miguel Reale Júnior)



Fonte: Mentes Perigosas - Ana Beatriz Barbosa e Miguel Reale Júnior  

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