Ana Beatriz Barbosa Silva
“Segundo
o psiquiatra canadense Robert Hare, uma das maiores autoridades sobre o
assunto, os psicopatas têm total ciência dos seus atos (a parte cognitiva ou
racional é perfeita), ou seja, sabem perfeitamente que estão infringindo regras
sociais e por que estão agindo dessa maneira. A deficiência deles (e é ai que
mora o perigo) está no campo dos afetos e das emoções. Assim, para eles, tanto
faz ferir, maltratar ou até matar alguém que atravesse o seu caminho ou seus
interesses, mesmo que esse alguém faça parte de seu convívio íntimo. Esses
comportamentos desprezíveis são resultados de uma escolha, diga-se de passagem,
exercida de forma livre e sem qualquer culpa.
A
mais evidente expressão da psicopatia envolve a flagrante violação criminosa
das regras sociais. Sem qualquer surpresa adicional, muitos psicopatas são
assassinos violentos e cruéis. No entanto, como já dito, a maioria deles está
do lado de fora das grades, utilizando sem qualquer consciência, habilidades
maquiavélicas contra suas vítimas, que para eles funcionam apenas como troféus
de competência e inteligência.
Reafirmo
que é comum depararmos com pessoas de boa índole (até mesmo de alto nível intelectual
e cultural) que duvidam que os psicopatas possam existir de fato. Para sanar
essa dúvida, basta observar a grande quantidade de pessoas mostradas na mídia
diariamente: assassinos em série, pais que matam seus filhos, filhos que matam
seus pais, estupradores, ladrões, golpistas (os famosos “171”), gangues que
ateiam fogo em pessoas, homens que espancam as esposas, criminosos de colarinho
branco, executivos tiranos, empresários e políticos corruptos,
sequestradores...
Todos
os crimes cometidos por esses indivíduos, de pequena ou grande monta,
deixam-nos tão perplexos que nossa tendência inicial é buscar explicações que
sejam no mínimo razoáveis. E aí especulamos: “Ele parecia tão bom, o que será
que aconteceu?”, “Será que ele não regula muito bem, estava drogado ou
perturbado?”, “Será que foi maltratado na infância?”. E, mergulhados em tantas
perguntas, incorremos no erro de
justificar e até entender as ações criminosas dos psicopatas.
Passe
a ler os jornais sob esse novo prisma (a falta de consciência) e você perceberá
rapidamente que a extensão desse problema e amedrontadora. Convenhamos, não é
chocante saber que tais comportamentos moralmente incompreensíveis são exibidos
por pessoas aparentemente “normais” ou comuns?
É
preciso estar atento para o fato de que, ao contrário do que se possa imaginar,
existem muito mais psicopatas que não matam do que aqueles que chegam à
desumanidade máxima de cometer um homicídio. Cuidado, os psicopatas que não
matam não são, em absoluto, inofensivos! Eles são capazes de provocar grande
impacto no cotidiano das pessoas e são igualmente insensíveis. Estamos muito
mais propensos e vulneráveis a perde nossas economias ao cair na lábia
manipuladora de um golpista do que perder a vida pelas mãos de um assassino”.
P.40/41.
Ana Beatriz Barbosa Silva. Mentes perigosas. RJ. Ed. Objetiva. 2008
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