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domingo, 12 de março de 2017

Erich Fromm



O coração do homem



Hoje convivemos no dia a dia com uma série  de  manifestações de agressões. Algumas delas são necessárias à sobrevivência do ser humano e outras permitem os necessários ajustes para a manutenção do equilíbrio social. Essas diferentes formas de violência foram percebidas por Erich Fromm[1] e sua abordagem, baseada nas motivações inconscientes continua merecendo atenção.

Para ele a violência recreativa, é uma forma não patológica e pode  ser observada nas atividades onde ela é exercida com o fim de exibir perícia e não de provocar destruição. Na hipótese não existe ódio ou destrutividade em sua motivação. Se faz presente nos jogos guerreiros em tribos, nas artes marciais ou competições esportivas onde o emprego da força se faz necessário para a vitória ou até em jogos eletrônicos.

A violência reativa, com suas raízes no medo (real ou imaginário, consciente ou não), é uma forma mais frequente. É empregada na defesa da vida, liberdade, propriedade ou dignidade. Por objetivar preservar e não destruir, as consequências morais e legais são admitidas como aceitáveis, mesmo com perda de outra vida.

A violência por frustração é um tipo da violência reativa exercitada por animais, crianças e homens. Surge quando um desejo ou necessidade não atinge o seu objeto ou não se integraliza.  Nessa categoria está a hostilidade nascida da inveja ou ciúme.  Deve-se observar que o ciúme sempre foi considerado um sentimento capaz de deflagrar as mais violentas reações.

Conduzindo suas observações para a proximidade do patológico Fromm considera a violência vingativa, cuja prática representa um desejo e possui a função fantasiosa de desfazer magicamente o que foi feito na realidade. Ela está presente tanto em grupos primitivos quanto em sociedades civilizadas, sendo mais forte a sua manifestação na ordem indireta da autoestima e produtividade e na ordem direta do empobrecimento econômico e cultural.

Suas manifestações são sentidas a partir do desmoronamento da fé que ocorre em uma criança pela quebra da imagem positiva que faz dos pais, da família, dos amigos, religião e até no adulto que, ludibriado e desapontado, torna-se um elemento cínico e destruidor, desejando provar que os homens, a vida e ele são maus. O agente não tolera mais o desapontamento e leva com isso o ódio à vida.

Já a violência compensatória é uma forma claramente patológica. Ela é empregada como um processo substitutivo da atividade do agente impotente perante a vida, aquele que é incapaz de tornar realidade seus desejos revelando-se apenas um simples objeto das circunstâncias. Por sua debilidade não cumpre o papel de elemento criador ou transformador e se ressente de sua situação.  Por não possuir as qualidades necessárias para criar a vida resta-lhe destruí-la, já que para tanto necessita apenas de uma vontade viciada ou de uma arma. Vinga-se da vida desorganizando-a em outros ou em si mesmo.







[1] ERICH FROMM, O coração do homem,Zahar Editores

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