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domingo, 19 de março de 2017

Infanticídio - Portugal


“O código Penal lusitano de 1982 (art 137) dizia:

A mãe que matar o filho durante ou logo após o parto, estando ainda sob sua influencia pertubadora ou para ocultar a desonra será punida com prisão de 1 a 5 anos.

Tal texto fora introduzido na fase final dos trabalhos preparatórios do Código Penal, após vicisitudes varias que expusemos em nosso “Código Penal Português Anotado”, e manifestamente inspirado nos arts 79º do Código austríaco e 116 do C[odigo Suiço, que eran idênticos.

Tradicionalmente, e segundo o Código Penal de 1886, o crime de infanticidio privilegiado era aplicado à mãe que matasse o filho logo após o parto ou em curto prazo, para ocultar a sua desonra. Com este estrito ámbito era mantido em alguns códigos do direito comparado, v.g. o español, mesmo após a reforma de 1989 (atr. 410) 

O código, na versão originária de 1982, assim se expressou também, mas em alternativa privilegiou por outro lado o crime no caso da mãe matar o filho durante ou logo após o parto, estando sob sua influência pertubadora.

A revisão supra mencionada eliminou do texto o caso em que a mãe mata o filho acabado de nascer ou durante o parto para ocultar a desonra, que históricamente esteve na base do infanticidio privilegiado.

Esta atitude do legislador explica-se plenamente. Por um lado a atual tábua de valores  éticos não acarreta, como outrora, o estigma da desonra para as mães não casadas ou cuja gravidez não foi desejada: o mesmo se podendo dizer quanto a perda da virgindade.

[…]

Trata-se na verdade de um homicidio privilegiado, que bem caberia na previsão geral do art. 133, (Homicídio privilegiado) sendo a pena coincidente. […] Até o inicio do séc XIX punia-se severamente em toda a Europa ese crime. Beccaria e outros autores protestaram contra tal dureza, em atenção à mãe que, para ocultar a desonra, matava o filho no ato do nascimento, e daí o preceito do § único do art. 356 do Código de 1886 e os preceitos paralelos de diversos códigos da Europa e da América.” ( M Maia Gonçalves. Código Penal Português. 10ª Edição. Coimbra. Livraria Almedina)


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