Bárbara Fort - Oradora da turma na aula da saudade
Primeiramente,
gostaria de agradecer à comissão pela escolha de meu nome para prestar as
homenagens que se seguem.
Bem,
muitos de nós – ou, quem sabe, todos nós – nos encontramos ultimamente
submergidos no plano do futuro, tentando encontrar respostas a uma série de
questionamentos que surgem com o final do curso. Peço licença a todos para este
ser um momento de calmaria nesta balburdia de pensamentos. Afinal, hoje é dia
de comemoração... mais ainda, hoje é dia de SAUDADE!
Sem
medo de ser piegas, peço a todos que fechem por um segundo os olhos e tentem
trazer à memória o primeiro dia em que estivemos na UNICAP como graduandos de
Direito. Eu, particularmente, carregava comigo neste fatídico dia um medo
terrível de não ter feito a escolha correta – a qual afetaria sobremaneira meu
futuro –, bem como uma SAUDADE incrível do colégio.
E
hoje, aqui estamos reunidos, todos sentindo – acredito eu – o mesmo que
vivenciei no primeiro dia de aula: o medo do início de uma nova fase e a
saudade dos incríveis tempos de aluno/estagiário que agora já nos parecem tão
longínquos. Sem nos apegarmos ao futuro profissional – mas desde já deixo o registro
de que acredito em cada um de nós como brilhantes juristas – eis que chega a
hora de relembrarmos nossa árdua caminhada nestes cinco anos.
Revisitarmos
nossas memórias destes tão incríveis cinco anos, contudo, nos permite verificar
que NUNCA estivemos sozinhos na caminhada. Eu desafio vocês a lembrarem de
algum momento importante em nossas vidas acadêmicas no qual um de nossos
professores não esteve presente.
Sobre
eles, trago em empréstimo as palavras de Cecília Meireles do texto “Qualidades
do Professor”.
Se há uma
criatura que tenha necessidade de formar e manter constantemente firme uma
personalidade segura e complexa, essa é o professor.
Destinado a pôr-se em contato com a infância e a adolescência, nas suas mais
várias e incoerentes modalidades, tendo de compreender as inquietações da
criança e do jovem, para bem os orientar e satisfazer sua vida, deve ser também
um contínuo aperfeiçoamento, uma concentração permanente de energias que sirvam
de base e assegurem a sua possibilidade, variando sobre si mesmo, chegar a
apreender cada fenômeno circunstante, conciliando todos os desacordos
aparentes, todas as variações humanas nessa visão total indispensável aos
educadores.
É, certamente, uma grande obra chegar a consolidar-se numa personalidade assim.
Ser ao mesmo tempo um resultado — como todos somos — da época, do meio, da
família, com características próprias, enérgicas, pessoais, e poder ser o que é
cada aluno, descer à sua alma, feita de mil complexidades, também, para se
poder pôr em contato com ela, e estimular-lhe o poder vital e a capacidade de
evolução.
E ter o coração para se emocionar diante de cada temperamento.
E ter imaginação para sugerir. E ter conhecimentos para enriquecer os caminhos
transitados.
E saber ir
e vir em redor desse mistério que existe em cada criatura, fornecendo-lhe cores
luminosas para se definir, vibratilidades ardentes para se manifestar, força
profunda para se erguer até o máximo, sem vacilações nem perigos. Saber ser
poeta para inspirar. Quando a mocidade procura um rumo para a sua vida, leva
consigo, no mais íntimo do peito, um exemplo guardado, que lhe serve de ideal.
Quantas vezes, entre esse ideal e o professor, se abrem enormes precipícios, de
onde se originam os mais tristes desenganos e as dúvidas mais dolorosas!
Como seria
admirável se o professor pudesse ser tão perfeito que constituísse, ele mesmo,
o exemplo amado de seus alunos!
E, depois de ter vivido diante dos seus olhos, dirigindo uma classe, pudesse
morar para sempre na sua vida, orientando-a e fortalecendo-a com a inesgotável
fecundidade da sua recordação.
Ao nosso lado, partilhando deste momento solene,
estão alguns de nossos incríveis mentores e a quem devemos nossos
agradecimentos: As professoras Marília Montenegro e Carolina Valença e os
professores Glauco Salomão, João Franco e Ricardo Galvão.
A professora Marília, hoje coordenadora do curso na
UNICAP, atravessou nossos caminhos ainda no terceiro período, mas sem dúvidas
deixou marcas tão profundas que nem o fim da graduação poderão apagá-las.
Tivemos contato com uma mulher incrível, defensora de seus ideias e que nos
apresentou o Direito não apenas como uma relação dogmática, mas principalmente
como uma fonte inesgotável de mudanças sociais.
E por este lado humano tão ímpar em suas palavras e
em suas ações, nós não poderíamos deixar de agradecê-la e homenageá-la como
paraninfa de nossa turma. Essa turma carrega – além de seu nome – um pouco de
sua essência feminina, altiva e combativa. Em nome de todos que compõem a turma
Marília Montenegro, meus eternos agradecimentos a você, professora.
Continuando na ala feminina, o que dizer de
Carolina Valença, mais carinhosamente conhecida como nossa Carol? Acredito
nunca ter conhecido um ser humano com um coração maior do que o dela. Suas
palavras, suas expressões, sua força, sua rebeldia e, acima de tudo, sua
humanidade tocam a todos e todas de maneira inexplicável.
Eu mesma costumo dizer que passei por duas fases
enquanto aluna de graduação: pré-Carolina e pós-Carolina. Após conhecê-la – e
acredito que meu relato se encaixe perfeitamente na graduação de muitos dos
meus colegas – meus posicionamentos mudaram, meus conceitos foram revistos e
minha voz revivida. A você, Carol, nossa eterna gratidão pela mudança operada
em nossas vidas. Com você – e por você – nós acreditamos em um mundo melhor!
Voltando ao
direito penal, já que já o visitamos com nossa honradíssima Marília, a
faculdade nos trouxe duas figuras ímpares: João Franco e Ricardo Galvão. João
Franco, peço licença para iniciar as homenagens pelos mais velhos.
Brincadeiras
a parte, quem vê a pouca idade de Ricardo não consegue alcançar a sua
experiência enquanto professor. É um “monstrinho” penalista, um verdadeiro
mestre, a quem devemos muito de nossa inspiração. Esteve por perto sempre nos
bons e nos maus momentos e, por isto, devemos agradecê-lo pela companhia nos
caminhos da graduação e pela segurança ao nos ajudar nos percalços.
E por
último, mas não menos importante, temos o nosso queridíssimo João Franco, sobre
quem a colega Amanda Raissa Abreu e Lima, traduzindo o sentimento de toda a
turma, fez questão de proferir as seguintes palavras.
“João é uma pessoa extremamente humana,
comprometido com o saber que ultrapassa a barreira do simples aprendizado
repetitivo e adentra na educação como elemento transformador do próprio
indivíduo. João é professor para a vida, utiliza uma pedagogia associada a
princípios da psicologia em sala de aula e, de uma forma engraçada – disfarce
de todo o seu conhecimento – encanta a todos e faz da vida sua sala de aula,
estimulando a construção do conhecimento entre professor e aluno.”
Depois destas lindas palavras, João, só me resta,
em nome da turma, agradecê-lo por todos os ensinamentos e toda a humanização no
processo de aprendizado.
Por fim, pensando em nossos mestres me recordei de
um texto que li recentemente. O autor é Artur da Távola e ele diz o seguinte:
“Que a vida ensine que tão
Ou mais difícil do que ter razão, é saber tê-la.
Que o abraço abrace.
Que o perdão perdoe.
Que tudo vire verbo e verbe.
Verde. Como a esperança.
Pois, do jeito que o mundo vai,
Dá vontade de apagar e começar tudo de novo...”
Obrigada, meus queridos, por serem nossas
esperanças de um mundo mais humano e por afastarem de nós a vontade de apagar e
começar tudo de novo. É fazendo, é continuando, é lutando que nós chegamos lá.
E nós chegaremos, Turma Marília Montenegro... afinal, não por acaso carregamos
este nome.
Saudações aos novos bacharéis. Saudações aos nossos
grandes mestres!
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