Homicídio na literatura
Trecho de um trabalho publicado por João Franco
Ésquilo em As Coéforas (Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed. 1991) discute a questão do dano causado pelo homicídio e suas terríveis consequências. Uma delas é o de ser o ato irreparável. Por maior que seja o arrependimento não há como voltar atrás, cristalizando-se a morte da vítima com a dor provocada entre os familiares e amigos. O sangue retorna a terra antes do tempo, impedindo a vida que dela brotou de cumprir com toda a tarefa que devia realizar.
Outra consequência – tão terrível quanto à primeira – é o desejo de vingança, pai de novas ações violentas que inexoravelmente altera a vida de todos os que estavam ligados ao morto. A nova desgraça que nasce da antiga desarmoniza a coexistência entre os homens que, longe de trabalharem juntos em busca do objetivo comum, corroem a paz com o ódio que se instala.
Observemos a acurada percepção de Ésquilo (525 a.C.) quanto à vingativa ação frente a um ato de violência:
“Que reparação existe para o sangue caído sobre a
terra? Quando o sangue é sorvido pela terra nutriz de todos, até saturá-la, ao
menos um coágulo perdura intacto e nunca se dissolverá; um dia sairá dele a
vingança.
Da mesma forma que não existe remédio para a
violação da virgindade, todos os cursos d’água reunidos numa torrente impetuosa
e única para lavar a mácula indelével das mãos sujas do sangue derramado terão
fluido inteiramente em vão.”(p.91)
“É lei que o sangue derramado em plena terra exija sangue novo. Um assassínio clama em altos brados pelas divinas Fúrias vingadoras, para que em nome das primeiras vítimas elas provoquem implacavelmente nova desgraça, em seguida à antiga.” (p. 107)
ATT: Clicar em "Postagens mais antigas" para continuar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário